Durante décadas, a pressão arterial de 12 por 8 foi considerada o padrão-ouro, a medida “perfeita”. Mas uma nova diretriz divulgada por três das principais sociedades médicas do país — a Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC), a Sociedade Brasileira de Nefrologia (SBN) e a Sociedade Brasileira de Hipertensão (SBH) — trouxe uma mudança importante: 12 por 8 passa a ser classificada como pré-hipertensão.
O anúncio foi feito no 80º Congresso Brasileiro de Cardiologia, em São Paulo, e se baseia em uma revisão das melhores evidências científicas disponíveis.
O que é uma diretriz?
Diretriz
é um documento oficial, elaborado por especialistas, que reúne os
principais estudos científicos de alta qualidade sobre um tema. Seu
objetivo é orientar médicos e profissionais de saúde de todo o país
sobre como diagnosticar, prevenir e tratar doenças.
Elas são revistas periodicamente para acompanhar os avanços da ciência — ou seja, não são “achismos”, mas consensos técnicos baseados em grandes pesquisas internacionais e nacionais.
Como ficou a nova classificação
• Normal: abaixo de 12 por 8 (ou 120 x 80 mmHg).
• Pré-hipertensão: entre 12 por 8 e 13,9 por 8,9.
• Hipertensão: a partir de 14 por 9.
Antes, a faixa entre 12 por 8 e 13,9 por 8,9 era chamada de “normal limítrofe”. Hoje, sabemos que nesses valores já há maior risco de infarto, AVC e doença renal crônica.
Por que essa mudança?
Estudos com centenas de milhares de pessoas, acompanhadas ao longo de anos, mostraram que mesmo quem tem pressão em torno de 12 por 8 apresenta mais chances de desenvolver complicações cardiovasculares no futuro.
Um dado importante: a cada aumento de 2 pontos na pressão diastólica (o número de baixo), o risco de AVC pode subir em até 7%. E, em termos populacionais, isso representa milhares de casos a mais.
O que fazer na prática
Estar
na faixa de pré-hipertensão não significa doença instalada, mas sim um
sinal de alerta precoce. O foco inicial é mudança de hábitos:
• reduzir o consumo de sal — no Brasil, a média diária é de 9 a 12 gramas, mais que o dobro do limite recomendado pela OMS (5g por dia);
• praticar atividade física regular;
• controlar peso e circunferência abdominal;
• dormir bem e reduzir estresse;
• evitar cigarro e excesso de álcool.
Em alguns pacientes, principalmente os que já têm diabetes, doença renal ou histórico de infarto, o médico pode considerar tratamento medicamentoso ainda na fase de pré-hipertensão.
Dúvidas mais comuns sobre a nova diretriz da pressão arterial
- “12 por 8 não era considerado perfeito? Por que mudou?”
Era visto como normal, mas novos estudos mostraram que mesmo nesse
patamar já existe risco maior de infarto, AVC e problemas renais. Por
isso, agora entrou como pré-hipertensão
- “Tenho 13 por 8, preciso começar a tomar remédio?”
Nem sempre. Na maioria das vezes, o primeiro passo é mudar hábitos de vida. O remédio pode ser indicado apenas se houver outros fatores de risco, como diabetes, obesidade, histórico familiar ou doença renal.
- “Minha pressão varia muito ao longo do dia. Como saber qual valor considerar?”
O diagnóstico não é feito com uma medida isolada. É preciso repetir em
diferentes momentos e, em alguns casos, usar exames como o MAPA
(monitorização de 24 horas).
- “Essa nova regra vale também para crianças e adolescentes?”
Não. Crianças têm tabelas próprias, mas já é sabido que a obesidade infantil aumenta os casos de hipertensão precoce.
- “Como eu posso medir a pressão corretamente em casa?”
Use aparelhos validados, sempre sentado, em repouso, sem ter feito
esforço, fumado ou tomado café nos últimos 30 minutos. O braço deve
estar apoiado e na altura do coração.
“Se eu já sou hipertenso, isso muda algo para mim?”
O tratamento não muda, mas a diretriz reforça a importância de manter a pressão controlada o tempo todo, porque mesmo pequenas elevações podem aumentar os riscos.
Resumindo
A pressão arterial continua sendo um dos sinais vitais mais poderosos da medicina: ela mostra como está sua saúde hoje e pode prever o seu futuro.
A nova diretriz não deve causar pânico, mas sim servir de alerta: 12 por 8 não é mais “pressão perfeita”, é hora de cuidar da saúde antes que os problemas apareçam.
Teste rápido: qual é o seu risco de hipertensão?
Responda sim ou não às perguntas abaixo:
1. Tenho parentes de primeiro grau (pais ou irmãos) com hipertensão?
2. Estou acima do peso ou tenho barriga aumentada (circunferência abdominal > 94 cm em homens ou > 80 cm em mulheres)?
3. Faço menos de 150 minutos de atividade física por semana?
4. Costumo comer alimentos industrializados, enlatados, embutidos ou usar muito sal na comida?
5. Bebo álcool em excesso ou fumo?
6. Já medi minha pressão em 12 por 8 ou mais?
Como interpretar:
• 0 a 1 resposta SIM: risco baixo, mas continue cuidando da saúde.
• 2 a 3 respostas SIM: risco moderado, atenção redobrada para hábitos de vida.
• 4 ou mais respostas SIM: risco elevado — procure acompanhamento médico e faça medições regulares de pressão arterial.