A conjuntura do mercado mundial de açúcar atravessa um momento de vulnerabilidade estrutural. A combinação entre estoques globais baixos, crescimento vegetativo do consumo e limitações produtivas em países-chave tem reforçado a centralidade do Brasil no abastecimento internacional. Foi o que destacou Bruno Ferreira, líder de conteúdo da Datagro, durante o Seminário Norte-Nordeste Açúcar e Etanol 2025, realizado no Recife, nesta segunda-feira (04).
Segundo a consultoria, o mundo deverá encerrar a safra 2024/25 com um déficit de 5,55 milhões de toneladas de açúcar bruto. Para 2025/26, a expectativa é de um superávit modesto, de apenas 970 mil toneladas — volume insuficiente para recompor os estoques. A relação estoque/consumo deve cair para 40,6%, o menor patamar dos últimos 15 anos.
Nesse cenário, o Brasil se consolida como principal fornecedor global. Os dados apresentados pela Datagro indicam que as exportações brasileiras entre julho e agosto superaram 4 milhões de toneladas, volume muito acima da média dos últimos 10 anos. Com juros elevados no mercado internacional, importadores evitam carregar estoques e dependem da entrega ágil brasileira.
Chama atenção a situação dos Estados Unidos. Com menor disponibilidade de açúcar do México, a relação estoque/consumo dos EUA deve recuar para 13,5% em 2025/26, também o menor nível em 15 anos. Para evitar riscos de desabastecimento, os EUA devem ampliar suas cotas tarifárias de importação — e o Brasil aparece como uma das poucas origens capazes de atender à demanda.
Mesmo com tarifa de 50%, a janela de importação de volumes fora da cota está aberta. Segundo estimativas da Datagro, a arbitragem é positiva em 24,3%, o que favorece também a exportação de açúcar orgânico — segmento em que o Brasil se destaca com cerca de 250 mil toneladas.
Outro ponto relevante é a queda da relação estoque/consumo da China, hoje em 22%, abaixo da média histórica de 40%. Isso gera uma necessidade potencial de importação de até 6 milhões de toneladas para recomposição de estoques — movimento que já começou, tendo o Brasil como principal origem.
O evento, que reuniu empresários do setor, como Eduardo Monteiro, presidente do Grupo EQM, da Folha de Pernambuco e do Movimento Econômico, além de Renato Cunha, presidente do Sindaçúcar-PE, e Pedro Robério Nogueira, presidente do Sindaçúcar-AL, resumiu a dependência crescente do mercado internacional em relação à produção açucareira brasileira.
Para o CEO da Datagro, Plinio Nastari, os Estados Unidos vão precisar importar açúcar do Brasil de qualquer maneira, mas é possível que o país encontre suprimentos marginais em outros países para cumprir a cota americana. “E aí eu acho que isso vai significar necessariamente que o Nordeste vai ter que exportar esse açúcar a preço de mercado mundial, a um preço mais baixo, visto que o mercado americano é protegido. Tem que lembrar, lá eles cobram um imposto abusivo que praticamente é o dobro do preço do mercado mundial”, ressaltou, acrescentando que, “mantida a situação atual, isso vai representar uma perda de renda para a região Norte e Nordeste”.