O Bairro do Recife, na área central da capital pernambucana, deve ganhar, em breve, um centro de arte, cultura, educação e lazer, além de um restaurante no formato de zeppelin, em dois dos mais bem localizados prédios próximos ao Marco Zero, ponto turístico da capital pernambucana.
A iniciativa, denominada REC Cultural, será instalada nos imóveis nº 23 da avenida Rio Branco, e na edificação vizinha, que fica na avenida Marquês de Olinda, nº 58, onde funcionou o Santander Cultural. A ocupação dos espaços foi autorizada pelo superintendente do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) em Pernambuco, Jacques Ribemboim.
O projeto havia sido analisado recentemente e rejeitado, por unanimidade, pelos técnicos do órgão, que alegaram a descaracterização dos prédios ao patrimônio histórico, a partir da implementação do restaurante em formato de zeppelin na cobertura dos imóveis tombados.
O primeiro relatório técnico que rejeita a implementação das mudanças arquitetônicas data de 31 de outubro de 2023. Em 20 de fevereiro de 2024 outro parecer técnico desaprova as modificações, reforçando que o projeto continuava sem atender aos critérios estabelecidos pelo Iphan.
Nesta segunda-feira (4), o superintendente do órgão autorizou o projeto. Em resposta ao apontamento feito pelos especialistas do Iphan, Jacques Ribemboim determinou que a instalação do empreendimento comercial seja reversível e de caráter provisório, devendo passar por revalidação de autorização em um prazo de 60 meses, o equivalente a 5 anos, contados a partir do início da operação, ainda sem data prevista.
Para a autorização do projeto no Bairro do Recife, o parecer considera os ganhos socioeconômicos que a iniciativa pode gerar e que o requerente, ao especificar os materiais a serem aplicados na instalação do restaurante, assegura as características de reversibilidade e provisoriedade da área comercial.
"Trata-se de um investimento privado de interesse público, reforçando a vocação do Bairro do Recife como um importante cluster turístico e cultural, com geração de renda e emprego. Nessa área, destacam-se importantes equipamentos culturais já instalados, como o Cais do Sertão, o Paço do Frevo, a Torre Malakoff, a Caixa Cultural, o Artesanatos de Pernambuco, dentre outros", afirmou o superintendente do Iphan.
O parecer aponta que, além do restaurante, o REC Cultural abrigará espaços para a exibição pública de quadros e esculturas de renomados artistas pernambucanos, adotando uma linha de ação semelhante à maioria dos museus de arte em todo mundo.
Também está prevista a instalação de uma "lojinha do museu", bem como a abertura de café/lanchonete. O projeto também prevê a oferta de auditório, biblioteca, laboratório e sala de aula para a promoção de programas de divulgação cultural e treinamento.
"O REC Cultural é um centro de arte, cultura, educação, inclusão e inovação, capaz de, como um verdadeiro laboratório de cidadania e de criatividade, fomentar a expressão e fruição artística, inspirar transformações e promover impactos positivos, com efeitos sistêmicos e de longo prazo, inclusive no âmbito econômico. Assim, o REC será capaz de gerar um novo e significativo fluxo financeiro direto para o território, com a perspectiva de geração de mais de 300 empregos diretos e indiretos durante a fase de obra e mais de 100 empregos em sua fase de operação e manutenção", destacou Jacques Ribemboim.
Ainda de acordo com o superintendente do Iphan, o REC Cultural tem como proponente o Centro de Integração Social e Cultural José Cantarelli, uma instituição sem fins lucrativos, que possui experiência no desenvolvimento de projetos que atendem pessoas com síndrome de down, paralisia cerebral, autismo, deficiências cognitivas, visuais e auditivas.
"Desta forma, o novo espaço ampliará a oferta de aulas de música, oficinas de teatro, dança e culinária, com a perspectiva de atender um público ainda maior. A experiência do Centro de Integração se somará a do REC Cultural, gerando novas oportunidades de inclusão e de desenvolvimento, promovendo ações com propósitos relacionados à inovação social", relatou Jacques.
Em publicação nas redes sociais, o Instituto de Arquitetos do Brasil em Pernambuco (IAB-PE) divulgou um comunicado relatando preocupação com a instalação do restaurante na cobertura das edificações e reforçando o posicionamento dos técnicos do Iphan-PE sobre a não-aprovação do projeto.
"Se faz urgente e necessário um debate público, já que estamos falando
do coração do sítio histórico tombado nacionalmente pelo IPHAN. O debate
público sobre intervenções em um patrimônio que é de todos é uma
prática que já devia estar plenamente consolidada na gestão urbana e
cidadã, e que não deveria depender da pesquisa sistemática de
especialistas que procuram acompanhar as ações preservacionistas (ou
não) na cidade e no país", afirma a postagem.