Globo demite autores para economizar e reinventar as novelas

 

Após 40 anos na Globo, Alcides Nogueira não teve seu contrato renovado. O dramaturgo foi colaborador de sucessos como ‘O Salvador da Pátria’, ‘Rainha da Sucata’ e ‘A Próxima Vítima’.

Como autor principal, fez as elogiadas ‘Força de um Desejo’, ‘O Astro’, ‘I Love Paraisópolis’ e ‘Tempo de Amar’. Versátil e elegante, ele sai do canal deixando as portas abertas.

Nos corredores da emissora, especula-se que a próxima a sair será Lícia Manzo, que assinou ‘Um Lugar ao Sol’, ‘Sete Vidas’ e ‘A Vida da Gente’, entre outros trabalhos.

Recentemente, a Globo não renovou o vínculo com Paulo Halm, autor de ‘Totalmente Demais’ e ‘Bom Sucesso’. No ano passado, Elizabeth Jhin foi dispensada após 30 anos no canal.

Ela colaborou com ‘Felicidade’, ‘Tropicaliente’ e ‘A Justiceira’, entre outras obras. Na condição de autora principal, assinou ‘Eterna Magia’, ‘Escrito nas Estrelas’, ‘Amor Eterno Amor’ e ‘Espelho da Vida’.

Em 2020, quem deixou a Globo involuntariamente foi Aguinaldo Silva, um dos mais bem-sucedidos novelistas da teledramaturgia nacional. Seu talento está impresso em grandes sucessos.

Alguns deles: ‘Roque Santeiro’, ‘Vale Tudo’, ‘Tieta’, ‘Pedra Sobre Pedra’, ‘A Indomada’, ‘Senhora do Destino’, ‘Fina Estampa’, ‘Império’. A saída da emissora surpreendeu a todos. “Fiquei chocado”, revelou o veterano, ganhador de 2 Emmys, em entrevista à Record TV.

Se a telenovela é o carro-chefe da Globo, por que a emissora está rompendo com autores tão importantes?

Há duas razões.

A primeira: economizar.

Assim como atores, os novelistas com contrato longo ficam vários meses, às vezes anos, recebendo o salário sem estar em período de produção efetiva. O intervalo entre uma obra e outra no ar pode ser de 2, 3 anos, ou até mais.

A Globo vai manter poucos dramaturgos fixos. Quem foi dispensado poderá voltar se tiver algum projeto aprovado e fará contrato de curta duração.

Autores consagrados chegam a ganhar mais de R$ 500 mil por mês quando estão com uma novela em exibição. Junta-se ao salário a participação nas ações de merchandising inseridas na trama.

O segundo motivo: inovar.

Diretor de Entretenimento da Globo, Ricardo Waddington quer modernizar as novelas. Testar histórias mais ousadas e surpreender na linguagem visual a fim de oxigenar o formato. Para isso, pretende investir em novos autores. Antes, a ‘panelinha’ de novelistas era quase impenetrável. Havia o temor de fazer algo diferente que poderia desagradar ao público fiel.

Essa ideia ficou no passado. Waddington vai apostar em novelas capazes de impressionar. A intenção é ‘segurar’ a audiência atual e atrair as novas gerações, pouco interessadas em ficção diária na TV.

Nesse campo, a experimentação teve um bom começo com ‘Verdades Secretas 2’, do premiado Walcyr Carrasco. A novela de 50 capítulos disponibilizada somente no Globoplay gerou recorde de visualizações na plataforma.

Repercutiu especialmente entre os jovens, atraídos pelas temáticas do sexo e das relações passionais. Atingiu um excelente engajamento on-line.

Ciente da decadência gradual da TV aberta diante da concorrência cada vez mais forte e numerosa, especialmente dos serviços de streaming, a poderosa Globo sabe que precisa se reinventar para garantir o futuro.

 

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