A vitória do republicano Donald Trump nas eleições presidenciais dos Estados Unidos, confirmada ontem, sinaliza novos tempos na correlação de forças internacionais, com impactos na política, economia e relações exteriores.
No Brasil, no campo político, lideranças de direita, em especial os bolsonaristas, adotaram o entusiasmo em relação ao cenário para as eleições presidenciais de 2026. Isso porque o novo presidente americano é aliado político do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), considerado o principal adversário do presidente Lula (PT).
Direita
O ex-secretário da Fazenda e do Planejamento do Governo de Pernambuco Luiz Otávio Cavalcanti,
titular da coluna “Um Ponto de Vista do Marco Zero”, que estreia na
próxima segunda-feira na Folha de Pernambuco, avalia que há um movimento
mundial de crescimento de forças da direita.
"Há de fato um movimento de direita que alcançou primeiro a Europa e agora os Estados Unidos. A eleição municipal deste ano confirma esta tendência também no Brasil. Os grandes vencedores do pleito brasileiro foram direita e centro-direita. Então, eu diria que a direita brasileira se antecipou, inclusive, a Donald Trump, pois venceu 30 dias antes dele", disse.
Contudo, o colunista adota a cautela sobre as projeções para o pleito presidencial de 2026. “Na política, dois anos são dois séculos. É muito tempo para se determinar o efeito de uma eleição, principalmente em países com condições e sistemas eleitorais tão diferentes. Não há uma relação de causa e efeito entre Brasil e Estados Unidos", esclareceu.
Mercado
A vitória de Donald Trump provocou impactos imediatos no mercado financeiro internacional. No Brasil, o dólar chegou a atingir R$ 5,86 antes de recuar para R$ 5,67 no fechamento do dia. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que havia declarado apoio à democrata Kamala Harris, parabenizou Trump após a confirmação de sua vitória.
Para Luiz Otávio Cavalcanti, a posição de Lula em relação à eleição norte-americana foi um erro, mas que não deve comprometer as relações entre os países. “A relação entre os países será sempre boa, pois os laços são muito fortes. São laços comerciais e empresariais. Lula errou em declarar apoio a Harris, mas isso é um episódio conjuntural que não afeta a estrutura da relação entre países. É uma folha que o vento leva”, afirmou.
Impacto
Especialistas alertam que as políticas prometidas por Trump, como o
aumento de tarifas de importação, protecionismo e incentivos fiscais,
podem influenciar a economia brasileira. O economista e cientista
político Sandro Prado destaca que tais medidas tendem a elevar o risco
fiscal americano e potencialmente a inflação, levando o FED (Banco
Central dos EUA) a adotar políticas de juros mais restritivas.
“A vitória de Donald Trump, caso suas promessas de campanha sejam realmente implementadas, trará impactos significativos para a economia brasileira. O cenário traçado por Trump tende a elevar o risco fiscal americano e, possivelmente, a inflação, o que pode forçar o FED a rever a sua política de juros, interrompendo a queda das taxas ou até iniciando um novo ciclo de alta”, explicou Prado.
A elevação dos juros nos EUA encarece investimentos em países emergentes, como o Brasil, e pode estimular uma fuga de capitais para ativos americanos, favorecendo a valorização do dólar. Um possível agravamento da guerra comercial entre EUA e China também deve intensificar a volatilidade no mercado, afetando o Brasil, que depende dos chineses como forte parceiro comercial.
Estímulos
O impacto da vitória de Trump no câmbio brasileiro é reflexo de sua proposta de fortalecimento da economia americana, com estímulos fiscais e cortes de impostos que atraem investimentos de volta aos Estados Unidos.
“Trump foca muito na economia norte-americana como grande motor da economia global. Ele vai estimular bastante a sua economia, seja com benefícios, seja com política monetária, seja com corte de impostos. Isso naturalmente vai favorecer as empresas norte-americanas”, avaliou o mestre em economia Tiago Monteiro.
Outro ponto de atenção é o posicionamento intervencionista de Trump em temas geopolíticos, como os conflitos na Ucrânia e no Oriente Médio. Segundo Monteiro, isso pode afetar o preço das commodities, como o petróleo, refletindo na produção e nos custos de insumos para o Brasil.
“Trump sobretaxando, por exemplo, produtos asiáticos, a tendência é impactar a economia brasileira. Isso porque a gente vai fornecer menos produtos e menos matéria-prima para a segunda maior economia do mundo, que estará menos integrada com a maior economia do mundo. Isso tende a reverberar em outros grandes centros, como Europa e Ásia”, observou Monteiro.
Postar um comentário