Na manhã desta sexta-feira será anunciado o laureado ou laureada do Prêmio Nobel da Paz de 2024, um ano no qual os conflitos armados e tensões entre Estados e agentes não-estatais se intensificaram ao redor do mundo.
E há nomes bem conhecidos entre os favoritos, que vão desde líderes de países em guerra, instituições internacionais a ativistas mortos por regimes autoritários — confira alguns deles, segundo a opinião de especialistas e listas elaboradas por casas de apostas, que todos os anos tentam adivinhar o que se passa dentro das reuniões fechadas do Comitê Norueguês do Nobel.
Cabe lembrar que as decisões não raro trazem surpresas.
UNRWA
A agência da ONU para os palestinos, assim como seu diretor, Philippe Lazzarini é responsável por prestar assistência a cerca de 4 milhões de refugiados nos Territórios Ocupados ( Gaza e Cisjordânia), Líbano, Síria, Jordânia e Síria, e está sob intensa pressão desde o início da guerra em Gaza, após ataques do grupo terrorista Hamas, em outubro do ano passado.
Integrantes do governo de Israel, incluindo o premier Benjamin Netanyahu, veem laços com o Hamas, e acusam a agência de “colaborar” com a milícia e seus aliados.
Hoje, há projetos em estado avançado de discussão e aprovação no Parlamento sobre a expulsão da UNRWA e a proibição de suas atividades nos territórios palestinos, algo que seria uma “catástrofe”, nas palavras do secretário-geral da ONU, António Guterres.
António Guterres
À frente da ONU desde 2017, o português enfrentou uma sequência poucas
vezes vista no cenário internacional recente, com conflitos no Oriente
Médio e África, o agravamento de desastres naturais ligados às mudanças
climáticas e crescentes ameaças à democracia.
Com mandato até 2026, na semana passada, Guterres “ganhou” mais um
título para seu longo currículo: o governo de Israel o considerou
“persona non grata” por, segundo as autoridades locais, não condenar de
maneira adequada os lançamentos de mísseis do Irã contra o país.
Corte Internacional de Justiça
Criado em 1945, o tribunal está à frente de uma ação movida por uma
série de países que acusa Israel de violar a Convenção para a Prevenção e
a Repressão do Crime de Genocídio na Faixa de Gaza.
Desde as primeiras audiências, em janeiro, foram emitidas decisões
contrárias a Israel, incluindo a ordem para a suspensão de uma ofensiva
em Rafah, que não foram observada na prática.
Em uma decisão separada, em julho, a Corte determinou que a ocupação
israelense de territórios palestinos — Gaza e Cisjordânia — é ilegal
perante a lei internacional. Israel rejeitou a determinação, e os EUA,
principais aliados e defensores do Estado judeu, disseram que ela
“complica a resolução” da guerra.
Volodymyr Zelensky
Em outro campo de batalhas, na Ucrânia, o presidente ucraniano,
Volodymyr Zelensky, aparece com boas chances nas bolsas de apostas, no
momento em que a guerra se aproxima de seu terceiro aniversário.
Hoje, as forças de Kiev estão em um momento complicado no leste, diante
de avanços russos turbinados por armas enviadas por Coreia do Norte e
Irã (além de equipamentos locais), que ameaçam ampliar a área ocupada
por Moscou.
Em agosto, Zelensky ordenou uma incursão na região russa de Kursk, e
pessoas próximas ao presidente da Rússia, Vladimir Putin, disseram que a
ação fez com que o Kremlin desistisse de negociar qualquer acordo com
Kiev.
Alexei Navalny
Morto em uma remota prisão da Sibéria em fevereiro, o ativista de
oposição Alexei Navalny figura nas listas de favoritos há alguns anos, e
é novamente apontado como favorito nas bolsas de apostas, que contam
também com a visão pouco amistosa nutrida pela Comissão do Nobel em
relação ao Kremlin.
Nos últimos três anos, foram concedidas honrarias a um jornalista
dissidente russo — Dmitry Muratov, em 2021 — e à organização russa
Memorial, vencedora em 2022, que cataloga as violações dos direitos
humanos cometidas durante o regime de Josef Stalin na União Soviética. A
instituição foi dissolvida por decisão da Justiça russa naquele mesmo
ano de 2022.
Embora não seja algo comum, há precedentes de premiações concedidas de forma póstuma, inclusive do Nobel da Paz: em 1961, o então secretário-geral da ONU, Dag Hammarskjöld, que morreu em um acidente aéreo naquele mesmo ano, foi escolhido por seu trabalho “para desenvolver a ONU em uma organização internacional eficaz e construtiva, capaz de dar vida aos princípios e objetivos expressos na Carta da ONU”.
Sviatlana Tikhanouskaya
Hoje no exílio, a ativista e ex-candidata à Presidência da Bielorrússia
tem dedicado a vida a denunciar abusos cometidos pelo presidente
Alexander Lukashenko, que incluem a prisão de centenas de opositores,
incluindo seu marido, Syarhey Tsikhanouski, detido em 2020 e considerado
pela Anistia Internacional um prisioneiro de consciência.
Em 2022, outro ativista bielorrusso, Ales Bialiatski, preso desde 2021,
recebeu o Nobel da Paz, e no ano seguinte foi condenado a 10 anos de
prisão pela Justiça.
Ilham Tohti
O economista uigur foi condenado à prisão perpétua na China por criticar
as políticas do Partido Comunista Chinês em Xinjiang, por defender
maior autonomia regional e por pregar a coexistência pacífica entre
uigures e a comunidade Han, majoritária no território chinês.
Para Agnès Callamard, secretária-geral da Anistia Internacional, a
prisão de Tohti, que completa 10 anos em 2024, “é mais uma mancha
vergonhosa no problemático histórico de direitos humanos da China”. Se
for escolhido, será o sexto laureado a receber a honraria at
Greta Thunberg
Em 2019, quando a sueca foi a mais jovem pessoa a ser escolhida a Pessoa
do Ano da revista Time, havia forte pressão para que levasse o prêmio,
mas o laureado daquele ano foi o premier da Etiópia, Abiy Ahmed, “pelos
seus esforços para alcançar a paz e a cooperação internacional, e em
particular pela sua iniciativa decisiva para resolver o conflito
fronteiriço com a vizinha Eritreia”.
Contudo, diante dos efeitos cada vez mais catastróficos das mudanças
climáticas, incluindo furacões, inundações e ondas de calor, seu nome
passou a ser considerado novamente à honraria.