Transporte público da RMR: passageiros destacam 7 problemas mais recorrentes

 


Após a suspensão da greve dos rodoviários da Região Metropolitana do Recife (RMR), os passageiros do transporte público analisaram a qualidade do serviço ofertado. Entre as reclamações, estão problemas ligados à estrutura e a métodos burocráticos de acesso aos veículos.

Percorrendo o Terminal Integrado da Joana Bezerra, no Centro da Capital pernambucana, na manhã desta quinta-feira (15), a reportagem da Folha de Pernambuco ouviu os usuários, que destacaram os sete principais gargalos que complicam, todos os dias, a vida de quem utiliza ônibus para ir e vir.

Veja os principais problemas
1. Aglomeração

A empregada doméstica Tereza Maria, de 50 anos, acredita que a quantidade de pessoas concentradas dentro de um coletivo prejudica a qualidade da viagem.

Ela, que usa ônibus, todos os dias, para trabalhar no bairro de Boa Viagem, esperava pela linha TI Joana Bezerra/Boa Viagem.

“Fica todo mundo em pé, seja no ônibus ou metrô, causa um transtorno enorme para a vida da gente, todos os dias. Sempre a mesma coisa. Não muda nada, só piora. Eu saí de casa, desde às 5h, e estou aqui [eram 7h25], ainda esperando por um ônibus. Essa é a vida. Eu largo todos os dias, ao meio-dia. Chego em casa às 15h. É muito difícil. A gente fica em pá e leva empurrão”, frisou.

2. Falta de ar-condicionado
Para o psicopedagogo Obadias Ferreira, 34, um dos maiores problemas do sistema é a falta de climatização e o sucateamento dos ônibus. A falta de investimento numa boa qualidade, segundo ele, é o que coloca o transporte a perder.

“Raramente existe um ar-condicionado que funcione direito. Muitas vezes, a gente pega um transporte lotado, como, por exemplo, o metrô, e é aquele calor, uma tremenda agonia. A manutenção desses transportes, que quase não existe, também é precária. A qualidade é bem inferior à que deveria ter para estarem em circulação. Infelizmente, temos a necessidade de usar esse transporte. Eu confesso que, realmente, seria pior se não tivesse, mas a gente tem que se submeter a essa situação, porque não tem outra escolha. Aplicativos são mais caros, principalmente quando [ônibus e metrô] estão em greve”, salientou.

3. Falta de faixas azuis
A faixa azul é o corredor exclusivo para ônibus e táxis, com o intuito de viabilizar e agilizar a circulação dos modais públicos da RMR. Mas, segundo o técnico de edificações, Daniel Amandio, de 22 anos, faltam mais espaços como este nas vias da RMR.

“Seria muito importante a reserva de mais faixas exclusivas para ônibus. Isso melhoraria a circulação dos ônibus e não interferiria nos carros. Muitos motoristas querem ter a vez e passar na frente dos ônibus, seja correndo ou através de ultrapassagem, o que é muito perigoso e pode causar acidentes. Até parece que a intenção é de gerar competição entre os veículos”, pontuou.

4. Cadeira para idosos
Atualmente, o Estatuto do Idoso prevê, através da lei 10.741, de 2003, a reserva de 10% dos assentos para pessoas acima de 65 anos. Para a dona de casa Edna Pereira, de 60 anos, essa quantidade de acentos ainda é pouca para os usuários idosos.

“A maioria dos jovens sentam nessas cadeiras reservadas, mas não dão o devido lugar aos idosos. Eu acho isso errado e falta de educação. Até eu, quando vejo que tem alguém mais velho, levanto e dou a cadeira para essa pessoa. São muito poucas cadeiras. Por isso que alguns jovens se aproveitam. Está errado”, acredita ela.

5. Paradas queimadas
O ato de "queimar" as paradas de ônibus já é conhecido por muitos passageiros. O motorista passa próximo ao ponto e não para no local, o que impede os usuários do transporte público de seguir viagem. Essa prática é proibida e o soldador Gilson dos Santos, 52, repudia essa atitude.

“São muitas paradas que os motoristas ‘queimam’, muitas vezes com os ônibus vazios. Isso não poderia acontecer. A passagem [de R$ 4,10] é muito cara, diante do que a gente recebe como oferta, todos os dias. É um verdadeiro desastre. São ônibus velhos. Poderiam ter, ao menos, ar condicionado para que pagássemos uma passagem digna”, salienta.

6. Alta velocidade
Patrícia Costa
, doméstica, de 46 anos, destacou a alta velocidade praticada por muitos motoristas de ônibus. Ela teme sinistros de trânsito por causa dessa atitude. Costa revelou ter medo de usar o modal para chegar ao trabalho, que fica no bairro de Boa Viagem.

“Tem motorista que corre muito. É por isso que algumas pessoas não respeitam e criticam os profissionais. Eu já passei por isso e quase sofri um acidente. Foi horrível. Eu apoiei a greve. Estão certos de reivindicar, mas, por mim, parariam totalmente os ônibus. Outro problema é a grande quantidade de ambulantes nos ônibus. Eu sei que eles têm que trabalhar, mas, às vezes, incomoda. Tem dia que a gente sai de casa com problema e, quando chega aqui, eles não têm educação. Ficam tocando instrumentos, falam alto, sem querer saber quem está por perto”, expôs.

7. Recarga do cartão VEM
A manicure Eliane de Oliveira, de 43 anos, já passou por maus bocados na hora de carregar o cartão do Vale Eletrônico Metropolitano (VEM). Ela já enfrentou dificuldades pelo fato de a máquina utilizada para comprar créditos não receber dinheiro físico.

“Agora, tudo é no VEM. Já teve vez que eu não tive créditos por problemas na máquina. Tive que pagar duas passagens de uma só vez. Dificulta muito a viagem e a ida ao trabalho. Deveriam olhar com mais atenção para esse assunto. Se são duas horas [com uma só tarifa, entre o ponto de partida e destino], a gente fica no caminho, por causa desses problemas, e vai ter que pagar outra passagem. Aí fica difícil para o trabalhador”, comentou.

Respostas de órgãos competentes:
A reportagem entrou em contato com a Autarquia de Trânsito e Transporte Urbano do Recife (CTTU), que enviou nota:

"A Autarquia de Trânsito e Transporte Urbano do Recife (CTTU) esclarece que a capital pernambucana possui, atualmente, 61,53 km de vias dedicadas exclusivamente ao transporte coletivo, sendo 45,48 km de faixas azuis e 16,05 km de corredores exclusivos para ônibus - incluindo os corredores de BRTs e vias exclusivas. Diariamente, mais de um milhão de usuários são beneficiados com essas rotas. 

Estudos da CTTU apontam que, dentro desses corredores exclusivos, a velocidade média dos ônibus aumentou em 50%. Além disso, o órgão possui 59 equipamentos de fiscalização eletrônica instalados nesses locais para evitar que as faixas sejam invadidas por veículos proibidos de transitar por elas. 

A CTTU explica ainda que as faixas azuis estão localizadas nas principais ruas e avenidas da cidade, por onde circulam, diariamente, grandes quantidades de ônibus. O órgão monitora, constantemente, esses locais para avaliar a necessidade ou não de expansão das vias exclusivas. Além disso, está investindo R$ 3,7 milhões na revitalização das sinalizações horizontais e verticais de dez grandes corredores viários, de ciclofaixas e faixas azuis, de pelo menos 200 vias, além de 15 áreas escolares e 15 comunidades. 

As faixas azuis estão localizadas nas avenidas Governador Agamenon Magalhães, Marechal Mascarenhas de Morais, Antônio de Góes, Visconde de Jequitinhonha, Domingos Ferreira, Conselheiro Aguiar, Herculano Bandeira, Recife, Caxangá, Sul, Beberibe, além das ruas Real da Torre e São Miguel, e na Estrada dos Remédios."

A Secretaria de Defesa de Defesa Social de Pernambuco (SDS-PE) também foi procurada, a fim de abordar a questão dos casos de assaltos e assédios dentro dos ônibus, mas não respondeu.

Outro órgão contactado foi o Grande Recife Consórcio de Transporte, que também não emitiu resposta.

O espaço segue aberto para inserção de resposta dos órgãos acima citados.

 

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