O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Dias 
Toffoli decidiu arquivar pedidos de investigação contra o ministro da 
Economia, Paulo Guedes, e o presidente do Banco Central, Roberto Campos 
Neto, sobre companhias existentes no nome dos dois em offshores - 
paraísos fiscais. Os negócios dos dois principais membros da equipe 
econômica foram divulgados pelo Consórcio Internacional de Jornalistas 
Investigativos conhecido como Pandora Papers.
Campos Neto e 
Guedes ou suas defesas já foram a público dizer que não estão em 
situação de irregularidade e que a existência das empresas no exterior 
foi informada aos órgãos competentes - no caso, a Receita Federal e o 
próprio BC. O pedido de abertura de uma investigação partiu do senador 
Randolfe Rodrigues (Rede-AP) e do PDT. Um processo separado com um 
pedido similar foi aberto pela Associação Brasileira de Economistas pela
 Democracia (Abed).
O desejo era o de que a Suprema Corte requisitasse
 ao procurador-geral da República, Augusto Aras, a abertura das 
investigações. Nos documentos sobre o caso (um sobre Guedes e outro 
sobre Campos Neto), Toffoli escreveu que "a Procuradoria-Geral da 
República, detém, privativamente, a atribuição de promover a ação penal 
pública em face dos alegados crimes praticados por autoridades com foro 
por prerrogativa de função, caso de ministros de Estado".
Assim, 
para o ministro, esta é uma "atribuição exclusiva" da PGR e que 
"tampouco cabe ao Judiciário que 'solicite a abertura de investigação'".
 Toffoli escreveu ainda que não cabe ao STF exercer juízo de valor sobre
 fatos "alegadamente criminosos". "Não há como o Judiciário substituir a
 atividade", apontou num trecho dos documentos.
Os despachos 
salientam que os requerentes podem "apresentar a notícia crime" contra o
 ministro e o presidente do BC "diretamente à Procuradoria-Geral da 
República, não cabendo ao Judiciário imiscuir-se na atuação daquele 
órgão ou substituir o cidadão nesse encaminhamento." Aras determinou no 
início da semana a abertura de uma "investigação preliminar" sobre o 
caso.
Guedes - Ainda que a legislação brasileira permita a 
existência de investimentos fora do País, é clara ao proibir que não 
pode haver conflitos de interesses privados no caso de exercício de 
função pública. Ontem, em live com investidores, o ministro da Economia 
comentou espontaneamente sobre o caso pela primeira vez e disse que 
perdeu dinheiro quando entrou para o governo, afirmação que já fez 
algumas vezes no passado a jornalistas antes do Pandora Papers vir à 
tona.
"As offshores são legais, foram declaradas, não houve 
movimentação para trazer dinheiro do exterior, nem envio de dinheiro 
para o exterior desde que eu enviei o dinheiro, em 2014 ou 2015", disse 
Guedes ontem. "Perdi muito dinheiro vindo aqui (governo), exatamente 
para evitar problemas. Tudo que estava nas minhas mãos eu vendi a preço 
de investimento. Perdi muito mais do que o valor dessa companhia que 
está declarada no exterior. Ninguém fez nada de errado. Qualquer 
dinheiro que esteja lá tem gestores independentes, em jurisdições que 
não têm influência de minhas ações", continuou Guedes.
Depois da 
decisão do STF, sua defesa enviou uma nota à imprensa dizendo que o 
arquivamento da ação perante o STF "é mais uma demonstração inequívoca 
de que não há ilegalidade em manter um veículo de investimento no 
exterior". Os advogados do ministro também ressaltaram que tudo foi 
declarado à Receita e demais órgãos competentes, muito antes de Guedes 
ingressar no governo. "Os documentos apresentados pela defesa à PGR 
demonstram de forma clara que o ministro se afastou da gestão da empresa
 e que jamais se beneficiou, de qualquer forma, do cargo que ocupa, 
seguindo, sempre, as determinações da Comissão de Ética Pública, do 
Código de Conduta da Alta Administração Federal e da Lei de Conflito de 
Interesses."
Apesar disso, Guedes foi convocado pela Câmara dos 
Deputados a dar satisfações sobre o caso no plenário. A derrota do 
governo foi grande, já que a aprovação contou com 310 votos pelo 
chamamento - 142 contra. Como se trata de uma convocação, e não um 
convite, o ministro será obrigado a prestar esclarecimentos numa 
audiência, que ainda não teve uma data definida. A ausência sem 
justificativa seria crime de responsabilidade. O presidente do BC não se
 pronunciou até o momento.