Professor Valter Gomes de Timbaúba escreve artigo sobre o atual momento político do Brasil

SERÁ QUE ENTRAMOS NO TÚNEL DO TEMPO E ESTAMOS VOLTANDO AO SÉCULO XVI?

Ao amanhecer de um novo dia, eu mesmo me pergunto: será que estamos no século XXI? Então respondo-me, sim! Mas porque faço essa estranha pergunta: Na verdade, estou questionando os recentes acontecimentos de certos líderes mundiais baseados na intolerância cultural, política e religiosa presente na maior parte da sociedade moderna industrial do atual mundo globalizado. É de estranhar esse paradoxo contemporâneo de termos alcançados o espaço sideral, desenvolvido a medicina e a ciência em geral e ao mesmo tempo em pleno tempo da história recente ainda estarmos presos a inexplicáveis conceitos já ultrapassados de dogmatismos injustificáveis ao ponto de crescer o negacionalismo em relação à ciência e ao conhecimento, tendo até visto a vitória da ignorância plena em comportamentos da época medieval , como por exemplo afirmações de negacionistas que “ a vacina não funciona” ou “a Terra é plana”.

Não irei levar para o campo das interpretações teológicas, até porque creio eu que a crença religiosa e dogmas são escolhas individuais de cada ser humano e precisam ser respeitados acima de tudo mas não posso deixar de lembrar que todo fundamentalismo religioso ou não é bastante perigoso, lembre das guerras entre israelenses e árabes, protestantes e católicos na Europa ou os atuais conflitos étnicos e religiosos espalhados pelo mundo e a atual situação do Afeganistão onde torna quase impossível uma solução a curto prazo e uma tendência de descontrole total de algumas sociedades. Existe hoje uma tendência quase irreversível de introduzir ideologias ou pensamentos com práticas oriundas de séculos anteriores à ciência no terreno da nova geopolítica mundial.

Vejo muito comum ser utilizado nos tempos de hoje termos que rotulam preconceituosamente pessoas que entendem o mundo ou interpretam com uma visão diferente as escrituras sagradas das religiões mundiais contrário a uma suposta “maioria”. E isso infelizmente foi responsável pela morte de milhares de sábios, filósofos, religiosos, políticos, cientistas e até artistas no Brasil e ao redor do mundo, e o que parece é que essa tragédia da antiguidade volta como um filme de terror repetido com novos atores. Tudo isso com a afirmação de defender os valores morais, a família, a propriedade e a religião.

Simultaneamente a esses fatos vivenciamos no período da pandemia o aumento da desigualdade social, da fome e da miséria de milhões de pessoas que sofrem as consequências da crise do capitalismo. A intolerância, a violência e individualidade humana cresce de forma assustadora, principalmente em países como o Brasil, e uma visão política bipolar contribui ainda mais para expandir o ódio nas redes sociais e nas ruas. Explodem guerras civis e conflitos em toda parte e as esperanças estão ameaçadas quando se trata de paz.

A chegada do grupo Talibã retomando o poder no Afeganistão mostra que não é com a força bruta ou um aparato político militar poderoso que é possível mudar a cultura e a crença de um povo, mesmo que essa cultura seja para nós ocidentais inaceitáveis ou discriminatória contra as mulheres ou outros grupos contrários ao regime; as interpretações radicais ou equivocadas dos livros sagrados do alcorão ou até mesmo a bíblia podem colaborar para o aparecimento de ideologias ou crenças religiosas que propaguem o confronto. Então, é fundamental o diálogo, a tolerância e interpretações fiéis dos fatos para assim não cairmos na armadilha dos pré-julgamentos.  

É nessa viagem de retorno ao passado bem distante nesse túnel do tempo imaginário que chegamos enfim ao Brasil atual que cada vez mais parece com o Brasil nos tempos da colônia, onde o sistema escravocrata e patriarcal era vigente desde o início do processo de colonização. Portanto percebo em minhas observações com um olhar geográfico e sincero, o aumento do radicalismo, do racismo e todas as formas extremas de preconceito dentro da sociedade brasileira. O que parece então é que a palavra amor ao próximo, tão exposta por Jesus Cristo, em seus ensinamentos em terras palestinas ou da Judéia está sendo esquecido na prática. Vivemos um momento político altamente crítico e delicado onde as ameaças de golpes e volta da ditadura militar parece solução para alguns desinformados.

É evidente e claro que algumas instituições chamadas de “ religiosas” se associam a um projeto de poder que além de tirar direitos trabalhistas prejudicam as classes menos favorecidas tentam impor uma nova ordem, onde a ciência, o bom senso e racionalidade está sendo esquecido pelos seus líderes é claro   que é importante ressaltar que no meu entender a maioria  da população brasileira não concorda com essas doutrinas.

É evidente que estamos no tempo das mentiras que são espalhadas e publicadas nas redes sociais através de fake News e do negacionismo para desfocar tudo que a humanidade construiu ao longo de séculos, muitas vezes são usados adjetivos impróprios e incorretos já ultrapassados para marcar com ferro em brasa, aqueles que têm a coragem de discordar dessas ideologias extremas que idolatram a morte ou armamento da população e a manutenção do status quo.

É muito comum ouvir ou ler nas redes sociais certas agressões de diversos conteúdos como por exemplo: você é um comunista ou tu eis fascista, antes de rotular o irmão em cristo, é preciso estudar e pesquisar o que é fascismo ou o que é comunista? Assim como na antiguidade quando todos os pensadores e iluministas muitas vezes eram tratados de “ateus” ou “hereges” e jogados na fogueira da inquisição.

Independentemente da análise dos sistemas ideológicos ou de crenças religiosas, não devemos deixar de considerar que a sociedade brasileira é dividida em classes sociais distintas e verificar que cada vez mais a mobilidade social de uma classe social inferior para outra superior está mais difícil. Esse extremismo leva muitos a dizer friamente ou você está comigo ou não está, então é meu inimigo.

Eu não perdi a esperança e entendo que todos nós temos uma missão louvável que é justamente levar o conhecimento e apaziguar os espíritos e conduzir a sociedade brasileira para um diálogo constante para defender e salvar a nossa prematura democracia. Acredito na mocidade pois os nossos jovens serão capazes de escrever uma nova história baseada na fraternidade, paz social, tolerância religiosa e construção de uma sociedade baseada na justiça social. Não podemos nunca voltar ao tempo das cruzadas medievais da Europa em direção ao Oriente.

No caso do Brasil e também no resto do mundo, a destruição do ódio e da vingança irracional assim como a pacificação de todos aqueles que ainda estão perdidos, e a propagação contínua do amor será a única saída juntamente com a educação  para unir os povos , respeitando as diferenças e individualidades de cada habitante desse lindo, maravilhoso e abençoado planeta chamado Terra.

Texto do Professor Valter Gomes

                                                             “O sabor da vida depende de quem tempera”.

                                                                                                                                             Elanklever

Prof. Valter Gomes, pós graduação em Geografia do Mundo Tropical ( UPE)
Professor de geografia da Escola Técnica Miguel Arraes de Alencar. Timbaúba - PE.

 

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