O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) desembarca em Pernambuco neste domingo (15) com um objetivo em mente: o diálogo. Apesar de ainda esconder o jogo sobre suas pretensões eleitorais em 2022, o líder petista adota o discurso de presidenciável ao defender a construção de um projeto de unidade nacional, além de não poupar críticas ao Governo Bolsonaro. Em entrevista exclusiva à Folha de Pernambuco, o ex-chefe do Executivo, que tem agendas com lideranças de diversos espectros políticos no Estado, inclusive um jantar com o governador Paulo Câmara no domingo à noite, diz que vem para Pernambuco para ouvir e faz um gesto ao PSB e PDT, ao ressaltar aliança histórica do seu partido com essas legendas.
O senador Humberto Costa afirmou que o senhor irá buscar
lideranças de partidos do centro e da direita em Pernambuco, incluindo o
MDB. O senhor acredita que poderá reunir um amplo número de lideranças
no Estado, mesmo com as resistências que algumas delas têm ao senhor?
Eu vou para Pernambuco para ouvir a população e lideranças políticas e
sociais, para saber da situação do povo de Pernambuco. Ainda é muito
cedo para definir eleições. Queria poder encontrar mais o povo, viajar
de ônibus pelo Estado, como fiz em 2017. Mas, infelizmente, por causa da
pandemia, isso não vai ser possível. Não podemos ser irresponsáveis e
promover aglomerações, como tem feito Bolsonaro. Olha, nós temos que
ouvir e conversar também com quem não concorda com a gente, isso faz
parte da democracia. Nos últimos anos, a política brasileira tem sido
marcada pela intolerância, pela falta de diálogo e isso só tem piorado a
situação do País e do povo. Ninguém está definindo alianças eleitorais
nesse momento. Não é ano de eleição, o País está em um momento difícil, a
pandemia ainda não acabou, a inflação está alta, o de- semprego
terrível, muita gente passando fome. E um presidente completamente
desequilibrado, vivendo no mundo dele de men- tiras, enquanto
governadores, prefeitos, lideranças responsá- veis tentam fazer o que
podem.
Como o senhor vê a crise institucional entre o presidente Jair
Bolsonaro e ministros do STF? O senhor vê a possibilidade de uma ruptura
institucional nas próximas eleições?
Eu não acredito que há espaço para uma ruptura institucional. O
Bolsonaro é um acidente de percurso na nossa democracia. Ele não tem
noção, vocação, equilíbrio ou capacidade de ser presidente da República.
É um sujeito que passa o dia inteiro espalhando mentiras. Ele é a
própria crise institucional. Mas ele vai passar. O Bolsonaro não será
derrotado por um partido ou um outro candidato. Será derrotado pelo povo
brasileiro, que vai corrigir esse acidente.
Como o senhor vê o discurso de Bolsonaro de que não haverá
eleição se não houver voto impresso? Qual a sua opinião sobre o voto
impresso?
O Bolsonaro é covarde, ele só inventou isso porque sabe que não tem como
ganhar as eleições depois do desastre que é seu governo para o povo
brasileiro. Ele foi o pior presidente do mundo no enfrentamento da
Covid-19. O Brasil tem 2.7% da população do mundo e 13% das mortes por
Covid, quatro vezes mais que a média mundial. Atrasou a compra de
vacinas que poderiam ter salvado vidas, espalhou mentiras sobre remédios
que não funcionam, atrapalhou prefeitos e governadores, deu mau exemplo
o tempo todo. Ele está destruindo a cultura brasileira, a ciência
brasileira, não apoia a agricultura familiar. A Petrobrás está fechando
ou vendendo toda a sua presença no Nordeste. A imagem do Brasil no
exterior está no fundo do poço. Aí, ao invés de governar e cuidar do
povo brasileiro, ele inventou essa bobagem. Há 20 anos que tem eleição
no Brasil para todos os cargos pela urna eletrônica. Os mesários
imprimem o resultado de cada sala, todo mundo fiscaliza. Ele elegeu os
filhos todos na urna eletrônica, não? Agora, que ele vai perder,
resolveram inventar isso. Ele vive de mentira em mentira, enquanto o
povo brasileiro luta para colocar comida na mesa. PSB e PT travaram uma
intensa disputa nas eleições municipais de 2022.
Após isso, o senhor acredita que PT e PSB podem estar no mesmo palanque em 2022 inclusive com o prefeito João Campos?
O PT e o PSB em Pernambuco estiveram juntos em 2018, na eleição de Paulo
Câmara, que venceu no primeiro turno, e foi uma aliança importante para
Pernambuco e para o Brasil. Também foi em Pernambuco, em 2006, na
primeira eleição de Eduardo Campos, quando o PT tinha candidato, mas as
duas chapas estavam juntas na campanha presidencial, chegamos a fazer
comícios juntos, com o acordo de ninguém vaiar o outro candidato, com
todo mundo respeitando a bandeira um do outro. Depois, no segundo turno,
estivemos juntos também em Pernambuco. Eu tenho muito orgulho de que
consegui ajudar Pernambuco em parceria com Eduardo Campos, pelo
desenvolvimento do Estado, com Suape, a construção de uma refinaria,
duplicação de rodovias, a ampliação dos aeroportos, investimentos
sociais, construção de cisternas, campus universitários e Institutos
Federais de Ensino. Todo o desenvolvimento industrial, geração de
empregos que nosso trabalho trouxe para Pernambuco. Eu fico pensando a
dificuldade que os governadores devem ter em dialogar com Bolsonaro. Eu
acho que em algum momento, no primeiro ou segundo turno, todos os
democratas estarão no mesmo palanque contra esse projeto de destruição
do Brasil.
O senador Humberto Costa esteve ao lado do presidente estadual
do PDT, Wolney Queiroz, em Pernambuco, em nome de uma aliança
antiBolsonaro. O senhor acredita que esse diálogo entre PDT e PT pode
evoluir nacionalmente?
Há bastante diálogo entre as fundações do PT e do PDT sobre políticas
públicas, há diálogo entre as bancadas no Congresso. Vários partidos têm
tomados iniciativas conjuntas no que concordam, e no que discordam cada
um toma seu caminho. É uma coisa meio simples de dizer, mas parece que
nesses últimos anos o país se desacostumou a dialogar, a conversar de
forma civilizada e respeitar as discordâncias. Eu sempre acredito.
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